As populações são os indivíduos de uma mesma espécie que vivem em hábitats adequados à sua sobrevivência, dentro de fronteiras naturais e apresentando-se em condições de deixar descendentes férteis; o que pode ser chamado de coesão genética.
As populações são os principais componentes de uma comunidade e elas podem estar subdivididas espacialmente através da fragmentação dos habitats. Quando visitamos reservas ou parques de conservação ecológica, estamos visitando fragmentos de um habitat ou de um ecossistema. E as populações que antes ocupavam uma extensa região ficaram subdivididas.
As populações de vegetais tendem a depender mais dos fatores físicos do ambiente; a dos animais da disponibilidade de abrigo e alimentação. Para Ricklefs, as principais propriedades das populações são:
1. Distribuição: sua abrangência geográfica.
2. Dispersão: o padrão do espaçamento dos indivíduos entre si (geralmente mantido por alta competição).
3. Densidade: é o tamanho da população, o número de indivíduos na sua área de ocorrência.
4. Propriedades secundárias:
* Natalidade: é a capacidade de aumento da população, depende muito da atuação dos fatores limitantes da espécie e do cuidado que elas destinam à prole;
* Mortalidade: é o número de mortos em um dado período, há um percentual que já é esperado pela longevidade dos indivíduos, mas também, depende da atuação dos fatores limitantes.
A tendência dos indivíduos das populações nos ambientes naturais é de se dispersarem de um modo agregado, próximos uns dos outros. Talvez isto ocorra devido a maior facilidade em responder às mudanças meteorológicas; pelas próprias diferenças entre os habitats, para os quais as espécies selecionam o mais adequado a elas; facilitação dos processos reprodutivos, de comportamento social, de defesa, de busca de recursos, entre outros. É interessante destacar que, embora essa agregação aumente a competição dentro da população, a sobrevivência também aumenta.
Uma comunidade é qualquer associação de populações de organismos vivos em uma dada área. Além da associação conviver em uma dada área, os grupos de espécies estão presentes de uma maneira constante, são recorrentes no espaço e tempo. Nessa área, esperamos sempre encontrar os grupos de espécies que formam a comunidade. Em virtude disso, há uma tendência dessa comunidade ou associação de atingir um estado de equilíbrio dinâmico, os grupos de espécies mantêm suas interações e atividades de sobrevivência de um modo auto-regulado.
Esta associação, a comunidade, é basicamente resultado da evolução conjunta dos grupos de espécies em um dado espaço ao longo do tempo e sob condições ambientais similares. A partir dessas características, as populações estabeleceram diferentes conexões umas com as outras, especialmente, pelas relações alimentares e interações simbióticas diversas, tais como, polinização, dispersão, mutualismos.
Uma comunidade também pode ser caracterizada pela predominância de uma dada característica física. Nos alagados, por exemplo, as espécies estão adaptadas ao mesmo fator físico, no caso, o alagamento. Mesmo assim, a importância das interações entre as espécies tendem a superar os limites dos fatores físicos.
Há dois pontos de vistas que norteiam diferentemente o conceito de comunidade. Um deles denomina-se comunidade “fechada” que atribui alto nível de integração entre os seus componentes e limites bem definidos para a distribuição das espécies e de toda a comunidade. Dessa forma, seria possível identificar comunidades distintas. Esta organização tende sempre ao equilíbrio através das sucessões até o clímax.
Outro é o conceito de comunidade “aberta” que afirma que as espécies estão distribuídas de forma independente em relação com as outras com as quais interagem. Os limites de distribuição são particulares de cada espécie ou associação. Este conceito está associado ao de “continuum”, segundo o qual, num dado habitat amplamente definido (uma floresta, um campo) as plantas e os animais substituem gradualmente uns aos outros ao longo das variações de condições físicas, como por exemplo, de acordo com a temperatura, o solo, a topografia, a precipitação.
São sistemas naturais que representam a integração dos seres vivos com o meio físico de uma determinada região. Um sistema é uma região delimitada do espaço que mantém trocas de matéria e energia com o ambiente em sua volta. Dessa forma, os sistemas naturais estão sujeitos à uma influência externa, por exemplo, da energia solar. E, também, podem influenciar outros sistemas, por exemplo, a liberação de calor que influencia o clima de outras regiões. A imigração e emigração de organismos também podem constituir exemplos da influência de um sistema em outros. Temos, também, ecossistemas mais controlados por fatores biológicos (quantidade da vegetação) e outros mais por fatores físicos (temperatura, água).
Os principais componentes de um ecossistema são: as substâncias inorgânicas, os compostos orgânicos, o ambiente físico e os consumidores (de matéria viva ou morta). A parte biótica (comunidade) mantém-se conectada à parte abiótica (meio físico) principalmente através da ciclagem de nutrientes e do fluxo de energia nas cadeias alimentares. Do mesmo modo que cada organismo necessita de energia para realizar seu trabalho (viver), estes sistemas naturais requerem uma entrada de energia para iniciar suas funções e manter-se em atividade (“vivo”). A principal fonte de entrada é a energia luminosa que se integra ao sistema através da sua transformação em energia química pelo processo da fotossíntese.
Essa energia química é armazenada com a produção de compostos orgânicos e fica disponível ao uso e sustentação de toda a comunidade biótica, através do seu fluxo por todo o sistema. Ou seja, os produtores ou seres autótrofos, realizam a transformação, nutrem-se e disponibilizam aos heterótrofos (macro e microconsumidores). Em síntese, a nutrição básica do ecossistema consiste na captação de energia luminosa e substâncias inorgânicas para sintetizar compostos orgânicos e disponibilizá-los para a sustentação de todo o sistema.
O ecótono é a região de transição nítida entre duas ou mais comunidades ou entre habitats. Eles são, portanto, uma região onde há substituição de espécies, de forma súbita ou gradual, ao longo de um gradiente ambiental. Em geral, são mais estreitos do que o tamanho das comunidades adjacentes e podem conter organismos pertencentes a cada uma delas, bem como, alguns outros restritos a essa área de transição.
A diversidade e a densidade no ecótono tendem a ser maiores do que na vizinhança, esta tendência é um resultado do efeito de borda (no caso das florestas) ou da constituição de um habitat misto. Por exemplo, habitats com porções de terra e outras de água ou partes de vegetação arbórea e outras partes com arbustos e ervas.
Em geral o ecótonos resultam de uma mudança na composição de espécies ao longo de um gradiente de condições ambientais. Ou então, representam o encontro de habitats ou comunidades diferentes que possuem fronteiras definidas. Por exemplo, entre uma lagoa e a terra firme, entre o campo e a floresta. Um ecótono também ocorre quando a espécie vegetal dominante, que caracteriza um certo habitat, encontra o seu limite de distribuição e dá origem à novas ocupações.
Os ecótonos são bem distinguíveis quando o ambiente físico muda abruptamente, por exemplo, do aquático para o terrestre; tipos distintos de solo; as faces norte e sul ou leste e oeste de encostas de montanhas. Eles também são facilmente identificados quando há dominância de uma espécie e quando ocorre o limite de sua distribuição também ocorre o limite de muitas outras espécies. Exemplos desse tipo são mais comuns em regiões temperadas (as florestas de pinheiros). No entanto, aqui no Brasil há algumas florestas dominadas por uma única espécie, é o caso dos buritizais, paratudais.
O hábitat é o lugar ou posição física onde um organismo vive, ao menos, a maior parte do seu tempo e partilha espaço com os vizinhos. Geralmente é caracterizado por uma vegetação, uma espécie vegetal dominante ou característica física peculiar (areia, rocha). De fato, não encontramos uma distinção absoluta, pois, a maioria dos hábitats se sobrepõe. O habitat de um organismo é onde se encontram as diversas condições as quais ele está exposto. Quando há fronteiras nítidas entre os habitats podemos identificar os ecótonos. Algumas espécies estão restritas ao seu habitat específico, não ocorrem fora deles, são os ecótipos.
Os habitats também possuem fluxo de energia e ciclagem de matéria e também estão sujeitos a perturbações e à regeneração, o que influencia sua ocupação por diferentes espécies e os conferem uma constante dinâmica. Essa dinâmica resulta em diversas formas de habitats, chamada de heterogeneidade de habitats e contribui diretamente para a diversidade local.
Este conceito se refere à posição funcional dos organismos no ambiente e seus mecanismos de ação em relação às variações das condições ambientais que os cercam. O nicho de um organismo representa as respostas dele aos fatores que são limitantes a sua sobrevivência. Esses diversos fatores ambientais que atuam sobre as atividades do organismo, determinam os recursos que eles dispõem para sobreviver. Por exemplo, uma espécie pode ter seu nicho associado à dinâmica de uma floresta. Nesta, a espécie encontra certas condições de sombreamento e temperatura que são agradáveis e também encontra suas presas e esconderijos de seus predadores, bem como pode ser uma presa a qualquer hora.
Os nichos das espécies, em geral, não se encontram completamente isolados, mas sim, estão em contato ou até sobrepostos, pois, de alguma forma, as atividades de uma espécie se relacionam com outras. Duas ou mais espécies podem caçar ou buscar recursos semelhantes, por exemplo, frutas, sementes, folhagens e outros. Esse grau de sobreposição parece se relacionar com o quanto tais espécies competem entre si. Quanto mais conseguirmos observar e compreender os nichos das espécies, mais entendemos a organização da comunidade, devido a essa integração de fatores.
O nicho ótimo é aquele que não há competição ou sobreposição. De fato, nos ambientes naturais, esta é uma condição rara. Caracterizar um nicho de uma espécie envolve conhecer suas atividades, tais como: nutrição, fontes de energia, partição de recursos, taxas de aumento da população, interações com outras espécies bem como a sua própria capacidade de se desenvolver. A variação morfológica das espécies pode ser um indicador da diversidade de nichos dentro da comunidade.
é o conjunto de espécies que apresentam nichos semelhantes, ou seja, apresentam semelhanças na variedade de condições que estão sujeitas e na qualidade de recursos que dispõem. A identificação dos guildas pode ser feita pelo estudo de cada espécie separadamente e, em seguida, fazer comparações, estudando suas áreas de alimentação ou também pelo comportamento das espécies em relação às variações ambientais a partir de um referencial, por exemplo, o bico das aves que se alimentam do mesmo fruto. Os bicos, o horário de alimentação, a parte do fruto consumida podem variar, mas o alimento (recurso) é o mesmo para todos.
Basicamente, o guilda é um grupo de espécies que explora a mesma classe de recursos, são espécies que dependem de uma mesma fonte de recursos. Essa associação resulta de uma adaptação a este recurso e também da competição que houve ao longo da evolução dessas espécies. Essa evolução em conjunto resulta, geralmente, em algum grau de semelhança morfológica entre os organismos. Como poderíamos explicar essa associação que envolveu competição e coexistência? O que favorece a formação da maioria dos guildas são as diferenças no método de usar recursos e nos horários de uso. Por exemplo, uma árvore frutífera pode representar vários recursos para um guilda, onde algumas espécies comem suas folhas, outras sugam o néctar de suas flores, outras comem seus frutos e outras coletam suas sementes. Durante o dia, algumas espécies coletam os frutos no alto dos galhos, outras no chão e outras para tirar suas sementes, e ainda, existem aquelas que coletam a noite.
Devido a esses fatores, o guilda é um bom referencial para comparar comunidades, pois, envolve duas das principais abordagens em ecologia a partilha de recursos e a competição. Os guildas podem servir como bioindicadores, uma vez que, qualquer coisa que afete a disponibilidade de recursos afetará as espécies que os constitui. Neste sentido torna-se uma variável para avaliar a qualidade ou estabilidade do ambiente.
É importante diferenciar guilda dos equivalentes ecológicos: o guilda se refere a espécies de uma mesma região, enquanto que os equivalentes ecológicos são espécies que ocupam nichos semelhantes em regiões geográficas distintas, apresentando ou não algum grau de parentesco.